Entre 1793 e 1794, a Revolução Francesa passou por uma das fases mais extremas: o Reino do Terror. Esse período ficou conhecido pelas inúmeras execuções, julgamentos indevidos e pelo poder centralizado nas mãos do Comitê de Salvação Pública.
A partir daí, os ideais de liberdade e igualdade acabaram sendo usados para justificar atos de repressão. Sob a liderança de figuras como Robespierre e Saint-Just, o governo argumentava que a violência era necessária para proteger a República contra inimigos de dentro e de fora.
Neste artigo, você vai descobrir o que foi o Reinado do Terror na Revolução Francesa, como era o Reinado do Terror, o que era o Comitê da Salvação Pública e como terminou o regime. Continue lendo e compartilhe este conteúdo!
Índice
O que foi o Reino do Terror na Revolução Francesa

Jean-Joseph Weerts (1880)
O Reino do Terror (1793–1794) foi uma das fases mais violentas da Revolução Francesa. Essa fase foi marcada pelo uso da violência e da repressão por parte do Estado em nome da defesa da República.
Nesse período, o governo revolucionário, principalmente por parte do Comitê de Salvação Pública, passou a usar o medo e a violência como ferramentas de controle, suspendendo direitos individuais com a justificativa de proteger a Revolução de inimigos internos e externos.
Mesmo que pareça ter sido um ato impulsivo, o Terror foi uma política planejada, liderada por pessoas que acreditavam estar defendendo a liberdade.
Nesse contexto, cidadãos comuns, e muitos deles instruídos e comprometidos com os ideais do Iluminismo, apoiaram o regime que executou cerca de 16.000 pessoas na guilhotina e causou a morte de milhares de outras por fuzilamentos, prisões ou batalhas.
O Reinado do Terror representou uma quebra entre os ideais revolucionários e a prática política, transformando o republicanismo em algo compatível com o autoritarismo, antes praticado pelo regime que a Revolução derrubou.
O Comitê de Salvação Pública, composto por doze membros, foi a principal força por trás do Terror. Entre eles se destacavam figuras como: Maximilien Robespierre, Saint-Just e Couthon.
Eles acreditavam que a ameaça de guerra civil, invasões estrangeiras e uma economia em crise só poderiam ser vencidas pela centralização do poder e a eliminação imediata dos chamados “inimigos da Revolução”, para garantir a sobrevivência da República.
O Terror foi colocado em prática por meio dos tribunais revolucionários, que julgavam crimes contra o Estado. Qualquer pessoa suspeita de traição de conspirações reais até simples críticas poderia ser condenada à morte.
A Lei dos Suspeitos, aprovada em setembro de 1793, ampliou ainda mais a repressão, permitindo que qualquer cidadão fosse preso com base em “provas morais”.
Como era o Reino do Terror

O Reino do Terror foi marcado pelo uso da violência como ferramenta oficial do governo e pela eliminação das liberdades individuais.
Um dos principais pilares do Terror foi o fortalecimento do Comitê de Salvação Pública, um órgão que assumiu poderes quase que absolutos. Composto por doze membros, esse comitê agia como um governo autoritário central, controlando tribunais, forças armadas e as decisões econômicas e sociais da França.
A repressão passou a seguir regras organizadas: os tribunais revolucionários julgavam os acusados com base em suspeitas ou denúncias, muitas vezes sem provas concretas.
A chamada Lei dos Suspeitos, aprovada em setembro de 1793, aumentou muito o número de pessoas que podiam ser presas ou condenadas, incluindo qualquer um que não demonstrasse apoio claro à Revolução.
Essa definição vaga criou um ambiente de medo, onde qualquer pessoa poderia ser acusada injustamente.
Durante o Terror, prevaleceu a ideia de que a virtude deveria caminhar junto com o medo. Para Robespierre e seus aliados, apenas por meio da repressão seria possível preservar a República.
O discurso dos revolucionários afirmava que o terror era uma forma de virtude, justificando assim a violência como ferramenta para criar uma nova sociedade.
Outro aspecto importante foi a vigilância constante. A população era estimulada a denunciar parentes, vizinhos e colegas, o que gerou uma cultura de desconfiança e medo. As liberdades individuais foram severamente reduzidas, e qualquer crítica à Revolução podia ser vista como traição.
Fora da capital, o Terror também foi imposto com rigor. Representantes enviados pelo Comitê de Salvação Pública garantiam que as ordens fossem seguidas em todas as regiões.
Em cidades como Lyon e Nantes, as ações repressivas foram extremamente violentas, com execuções em massa por fuzilamento ou guilhotinas móveis.
Essas medidas não serviam apenas para punir, mas também para assustar a população e acabar com qualquer sinal de oposição ao novo governo.
Comitê de Salvação Pública

Como já abordamos, o Comitê de Salvação Pública surgiu como o principal órgão de comando durante o período mais radical da Revolução Francesa. Entre os nomes mais importantes desse comitê, destacam-se:
- Maximilien Robespierre é o mais lembrado entre os membros, sendo uma das principais figuras por trás do Reino do Terror. Ele teve grande influência na criação e aplicação das decisões mais severas do período.
- Louis Antoine de Saint-Just, jovem e extremamente dedicado à causa revolucionária, teve papel importante tanto na criação de políticas quanto no comando de ações militares. Foi defensor dos Decretos de Ventôse, que confiscaram bens de inimigos da Revolução.
- Georges Couthon, foi um aliado fiel de Robespierre e ajudou a executar diversas políticas do Terror. Sua dedicação à Revolução se refletia em suas ações firmes dentro do Comitê.
- Lazare Carnot, apelidado de “Organizador da Vitória”, ficou responsável por reorganizar o exército francês. Suas reformas ajudaram a garantir vitórias que foram essenciais para manter a República viva.
- Bertrand Barère, com sua habilidade como orador, teve papel importante ao mediar disputas internas e na divulgação da propaganda revolucionária. Ele ajudava a tornar públicas as decisões e ideias do Comitê.
- Jacques Nicolas Billaud-Varenne e Jean-Marie Collot d’Herbois participaram ativamente da repressão nas províncias. Collot, por exemplo, liderou a repressão violenta em Lyon, uma das mais conhecidas do período.
- Claude-Antoine Prieur-Duvernois (conhecido como Prieur de la Côte-d’Or) e Pierre-Louis Prieur (Prieur de la Marne) também foram essenciais. O primeiro atuou na área militar, especialmente na engenharia, enquanto o segundo aplicava as ordens do Comitê em diferentes regiões do país.
- Jeanbon Saint-André cuidava da marinha e ajudava a proteger o país pelo mar. Ele também teve envolvimento com assuntos religiosos durante a Revolução.
- Jacques Alexis Thuriot, embora tenha participado por pouco tempo do Comitê, contribuiu com decisões políticas importantes no período.
- Robert Lindet era o responsável pela área econômica e de abastecimento, garantindo que os alimentos e recursos chegassem à população e às tropas durante os tempos difíceis.
Esses doze homens foram os líderes da França em um dos momentos mais caóticos da sua história. Tomaram decisões difíceis com o objetivo de defender a Revolução e manter a República viva, mesmo que isso significasse recorrer à repressão e ao autoritarismo.
Como terminou o Reinado do Terror

Alfred François Mouillard (1884)
O Reino do Terror surgiu rápido e intensamente, marcado por disputas internas, medo até entre os próprios líderes da Revolução e pela queda de Maximilien Robespierre, principal nome do regime.
O regime não teve o seu fim por um único motivo, mas por vários fatores: o cansaço da população com tantas mortes, o isolamento político de Robespierre dentro do Comitê de Salvação Pública e o desgaste do sistema baseado na repressão.
Isolamento de Robespierre
Nos últimos meses do Terror, Robespierre passou a acreditar cada vez mais que só seria possível proteger a República através da repressão. Com isso, começou a desconfiar até de aliados próximos, o que gerou rachas dentro do Comitê de Salvação Pública e do Comitê de Segurança Geral, os principais responsáveis pela repressão.
Em junho de 1794, ele se afastou por um tempo da vida pública e, ao voltar em julho, passou a pedir novas purificações, aumentando o medo entre seus colegas de que também seriam perseguidos por ele.
O Discurso (26 de julho de 1794)
Tudo chegou ao limite quando Robespierre fez um discurso na Convenção Nacional dizendo que havia traições dentro do próprio governo. Mas ele não disse quem seriam os traidores.
O efeito foi desastroso. Muitos dos presentes se sentiram ameaçados, com receio de serem os próximos levados à guilhotina. Isso uniu grupos diversos, como os moderados, ex-aliados de Hébert, seguidores de Danton e até jacobinos indecisos, todos com um objetivo em comum: tirar Robespierre do poder antes que fosse tarde.
A prisão e execução de Robespierre
No dia seguinte Robespierre, Saint-Just, Couthon e outros aliados foram denunciados na Convenção. Quando tentaram se defender, foram interrompidos com vaias e gritos. Foram presos, libertados por apoiadores da Comuna de Paris, mas capturados novamente.
Em 28 de julho, Robespierre foi executado sem julgamento, junto com outros 21 aliados, incluindo Saint-Just e Couthon.
É irônico que o mesmo sistema de repressão que ele ajudou a criar tenha sido usado contra ele, levando-o à morte pela guilhotina, o símbolo do próprio Terror.
A Reação Termidoriana
Com a morte de Robespierre, começou um novo período conhecido como Reação Termidoriana. A Convenção passou a desfazer as estruturas do Terror: reformou o Tribunal Revolucionário, tirou poderes do Comitê de Salvação Pública, fechou os clubes jacobinos e libertou muitos presos do período anterior.
Nesse momento, surgiu também o chamado Terror Branco, um movimento de vingança no qual os jacobinos passaram a ser assassinados por grupos conservadores.
A guilhotina, que antes era um instrumento oficial do Comitê, deu lugar a perseguições pessoais e instabilidade. Os sans-culottes, que antes tinham influência, perderam força, enquanto grupos mais moderados ganharam espaço.
Embora o fim do Terror tenha encerrado a fase mais violenta da Revolução, ele não trouxe paz. Pelo contrário, abriu uma crise de poder que, nos anos seguintes, acabou permitindo a ascensão de um novo tipo de governo, o que levou ao golpe de 18 de Brumário e à chegada de Napoleão Bonaparte ao poder.
Conclusão
O Reino do Terror foi mais do que um período marcado pela violência do Estado, foi como um experimento político, no qual os ideais da Revolução Francesa foram levados ao limite.
A concentração extrema de poder, os tribunais que julgavam com rapidez, as denúncias entre cidadãos e o uso constante da guilhotina passaram a ser ferramentas de um governo que se via como defensor da moral e da justiça.
Com a queda de Robespierre e o início da reação termidoriana, surgiram novas disputas políticas que, pouco a pouco, abriram caminho para a chegada de Napoleão Bonaparte ao poder.
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Referências
GOUGH, Hugh. The Terror in the French Revolution. 2. ed. London: Bloomsbury Academic, 2010. Disponível em: https://encurtador.com.br/sjxB6. Acesso em: 05/04/2025.
PALMER, R. R. Twelve Who Ruled: The Year of Terror in the French Revolution. Princeton: Princeton University Press, 1941. Disponível em: https://encurtador.com.br/y5kBh. Acesso em: 05/04/2025.