A Bastilha foi uma fortaleza francesa construída em 1370, durante o reinado de Carlos V, com o objetivo de proteger Paris de invasores. Com o tempo, sua função militar foi diminuindo, e no século XVII, ela se tornou uma prisão utilizada pela monarquia para encarcerar opositores políticos e intelectuais.
Esse papel transformou a Bastilha em um símbolo do absolutismo francês e da opressão do regime.
Sua destruição, em 14 de julho de 1789, marcou um dos eventos mais importantes da Revolução Francesa. A invasão popular da fortaleza representou a união do povo contra a monarquia e impulsionou mudanças políticas importantes, como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e o fim do Antigo Regime.
Neste artigo, vamos analisar a história da Bastilha, sua transformação em prisão, os acontecimentos da Queda da Bastilha e seu impacto na França, analisando como esse evento se tornou um símbolo da Revolução Francesa.
Continue lendo para entender como a tomada da Bastilha traçou o destino da França e inspirou a luta por liberdade e igualdade!
Índice
A Bastilha: De Fortaleza Medieval a Símbolo da Revolução Francesa

A Bastilha era uma grande fortaleza construída no leste de Paris para proteger a cidade de invasores. Com o tempo, ela perdeu sua função militar e passou a ser usada como uma prisão pelo governo. Por isso, a Bastilha, no início da revolução, se tornou um símbolo do absolutismo francês, representando a repressão do regime.
Sua queda, em 14 de julho de 1789, marcou o início da Revolução Francesa. Evento no qual simbolizou a luta contra a monarquia e o avanço de ideias revolucionárias como liberdade, igualdade e soberania do povo.
Construção e Transformação da Bastilha
Para entender a importância da queda da Bastilha durante a Revolução Francesa, é importante entender a história da fortaleza. A construção da Bastilha começou em 1370, durante o reinado de Carlos V e no contexto da Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Naquele período, Paris sofria constantes ameaças de invasão, especialmente dos ingleses e de seus aliados borgonheses.
Para reforçar a defesa da cidade, Carlos V mandou construir a Bastilha de Saint-Antoine, posicionada estrategicamente na entrada Leste de Paris, um dos pontos mais vulneráveis da capital.
A construção foi concluída em 1382 e, inicialmente, possuía apenas duas torres. Com o tempo, foi ampliada para oito torres interligadas por muralhas de pedra resistentes e cercadas por um fosso profundo para dificultar ataques.
As torres tinham cerca de 25 metros de altura, proporcionando uma visão ampla da região, enquanto as muralhas, com três metros de espessura, eram projetadas para resistir a bombardeios.
Embora tenha sido construída como parte do sistema de defesa da cidade, a Bastilha também representava a autoridade do rei sobre Paris. Seu controle era confiado a um governador nomeado diretamente pelo monarca, garantindo que a fortaleza permanecesse sob o domínio da Coroa.
Com o avanço das táticas de guerra, a importância militar da fortaleza foi diminuindo, e, no final do século XV, ela começou a ser utilizada para outras funções dentro do Estado francês.
De Fortaleza a Prisão Política
Com o tempo, a Bastilha deixou de exercer o papel de defesa de Paris e passou a ser usada como prisão. Esse papel se fortaleceu no século XVII, durante o governo de Luís XIII (1610-1643), especialmente sob a influência do Cardeal Richelieu, que viu na fortaleza um local ideal para deter prisioneiros.
Foi nessa época que intelectuais, nobres e críticos da monarquia passaram a serem presoi, tornando a Bastilha um símbolo do autoritarismo real.
Entre os prisioneiros mais famosos estavam:
- Voltaire, filósofo iluminista preso por suas críticas à monarquia e à Igreja. Mesmo detido, continuou escrevendo.
- Marquês de Sade, escritor e nobre, encarcerado por sua reputação controversa e seus textos provocativos.
- Eustache Dauger, conhecido como o “Homem da Máscara de Ferro”, cuja identidade ainda é um mistério.
Apesar da imagem de terror associada à Bastilha pelos revolucionários, as condições dos prisioneiros variavam de acordo com a posição que ocupavam na sociedade francesa. Nobres e intelectuais tinham celas mais confortáveis, acesso a livros, podiam escrever cartas e, em alguns casos, até manter servos.
Já os prisioneiros comuns enfrentam condições muito mais difíceis, com pouca luz, pouco espaço e higiene precária.
A queda da Bastilha em 14 de julho de 1789 marcou não apenas o colapso da monarquia absolutista, mas também a ascensão dos ideais de liberdade e justiça que impulsionaram a Revolução Francesa.
O que foi a Queda da Bastilha

A queda da Bastilha aconteceu em duas etapas: a invasão popular em 14 de julho de 1789 e a demolição organizada nos meses seguintes. O primeiro movimento foi um levante espontâneo do povo contra o regime vigente, enquanto a destruição da fortaleza foi um ato político que marcou o fim do Antigo Regime e reforçou o símbolo da Revolução Francesa.
A Invasão Popular (14 de julho de 1789)
No dia 14 de julho de 1789, uma multidão formada por trabalhadores urbanos, pequenos comerciantes e artesãos, conhecidos como sans-culottes, marcharam até a Bastilha.
A população estava revoltada com a crise econômica, a fome e o aumento dos preços dos alimentos (para saber mais confira o nosso artigo sobre: As causas da Revolução Francesa). Além disso, havia um grande medo de que o rei enviasse tropas para reprimir o povo.
Por conta disso, o objetivo principal do grupo não era derrubar a fortaleza, mas sim conseguir armas e pólvora para se defender. No entanto, a Bastilha era uma estrutura imponente, com muralhas espessas e oito torres reforçadas, tornando a invasão um grande desafio.
O governador da Bastilha, Marquês de Launay, resistiu até onde podia ao ataque, mas, após horas de confronto e com o apoio de soldados desertores que se juntaram aos revolucionários, os manifestantes conseguiram forçar a rendição e tomar a Bastilha.
Mesmo após autorizar a rendição, Launay teve um destino trágico pacífico: o marquês foi capturado pela multidão, espancado e esfaqueado até a morte. Sua cabeça foi cortada e carregada pelas ruas de Paris como um troféu da vitória popular sobre a tirania.
Esse evento foi tão marcante que a tomada da Bastilha se tornou um dos momentos mais marcantes da Revolução Francesa. Contudo, a fortaleza ainda permanecia de pé, e os líderes revolucionários decidiram que era preciso destruí-la completamente para destruir qualquer vínculo com o antigo regime.
A Demolição da Bastilha
Dias após a invasão, começou a demolição da fortaleza, liderada pelo empresário Pierre-François Palloy. Ele organizou centenas de trabalhadores para desmontar a estrutura pedra por pedra.
Em vez de apenas destruir a fortaleza, Palloy transformou os destroços em souvenires, e ajudou a espalhar o espírito da Revolução pela França. Algumas das formas de reutilização das pedras foram:
- Construção da Ponte de la Concorde: Parte dos destroços foi usada para erguer essa ponte sobre o Rio Sena, em Paris.
- Fragmentos como lembranças: Pequenas partes da Bastilha foram vendidas e distribuídas entre os cidadãos.
- Envio para outras cidades francesas: Algumas pedras foram enviadas para diferentes regiões do país como símbolo da Revolução.
- Miniaturas da Bastilha: Esculpidas a partir das pedras originais, foram entregues como presentes oficiais para reforçar o fim do absolutismo.
O espaço onde a Bastilha ficava foi transformado em uma praça pública, usada para eventos e celebrações. A demolição da fortaleza não foi apenas a destruição de um edifício, mas a substituição de um símbolo do Antigo Regime por um espaço dedicado à liberdade do povo.
O impacto desse evento foi tão grande que 14 de julho foi oficializado como feriado nacional na França. Hoje, o Dia da Bastilha é a maior comemoração cívica do país, representando os ideais da Revolução: liberdade, igualdade e fraternidade.
O Impacto da Queda da Bastilha na França

A tomada da Bastilha marcou uma grande mudança na história da França. Ela mostrou que o rei já vinha perdendo poder e influência e que o povo estava disposto a lutar por seus direitos. Os efeitos desta revolta foram imediatos e também influenciaram os rumos da Revolução Francesa nos anos seguintes.
A Crise da Monarquia e o Fim do Absolutismo
Antes da Revolução, a França passava por uma grave crise econômica. O governo estava cheio de dívidas por causa dos gastos excessivos da realeza e das guerras, como a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) e o apoio à independência dos Estados Unidos (1775-1783).
Enquanto isso, o povo formado por camponeses, trabalhadores urbanos e burgueses, pagavam altos impostos, enquanto a nobreza e o clero eram isentos de tributos.
A tomada e destruição da Bastilha simbolizou a insatisfação popular com essa injustiça. Além disso, a incapacidade do rei Luís XVI de conter a revolta e o fato de muitos soldados desertaram mostraram que o governo estava enfraquecido, abrindo caminho para o fim da monarquia.
As Reformas Políticas
Com a queda da Bastilha, o povo se sentiu mais forte, e a Assembleia Nacional Constituinte, criada pouco antes da Revolução, passou a ter mais influência. Entre as mudanças que ela promoveu, destacam-se:
- Abolição dos privilégios da nobreza e do clero (4 de agosto de 1789): acabando com direitos exclusivos sobre terras, impostos e cargos públicos.
- Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (26 de agosto de 1789): estabelecendo princípios de liberdade, igualdade e resistência à opressão.
- Criação de uma monarquia constitucional (1791): reduzindo o poder do rei e preparando o caminho para a Primeira República Francesa (1792).
Além das mudanças nas leis, a queda da Bastilha fez com que o povo se tornasse mais consciente de seu poder, reforçando a ideia de que através do povo poderia haver mudanças sociais.
A Bastilha como Símbolo da Revolução Francesa
Com o tempo, a Bastilha se tornou um dos maiores símbolos da Revolução Francesa. No século XIX, os republicanos exaltaram sua queda como um marco na luta pela soberania popular.
Foi apenas em 1880, já na Terceira República Francesa, que o 14 de julho foi oficializado como feriado nacional, conhecido como Dia da Bastilha (Fête Nationale). A escolha da data ajudou a reforçar os ideais republicanos e a unificar a identidade do país.
Desde então, o Dia da Bastilha é comemorado todos os anos com desfiles militares, festas e discursos políticos. O evento expressa a luta por liberdade e a rejeição da opressão, sendo um dos principais feriados da França, assim como o 4 de julho nos Estados Unidos.
Conclusão
A Queda da Bastilha foi um marco da Revolução Francesa, simbolizando a insatisfação popular com o absolutismo e a luta por uma sociedade mais justa. A fortaleza, que outrora serviu como prisão política, tornou-se um emblema da resistência do povo contra a opressão real.
A destruição da Bastilha resultou em profundas transformações políticas, como o enfraquecimento da monarquia, a criação da Assembleia Nacional Constituinte e a promulgação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Além disso, o evento impulsionou revoltas em outras partes da França, consolidando o início da Revolução.
Até hoje, a Bastilha permanece um símbolo da luta por liberdade. Seu legado é celebrado anualmente no Dia da Bastilha, um dos principais feriados da França.
A história da Queda da Bastilha continua a inspirar movimentos por justiça e igualdade ao redor do mundo. Comente sua opinião sobre esse evento histórico e compartilhe este artigo para que mais pessoas conheçam seu impacto!
Referência
CHAUSSINAND-NOGARET, Guy. The Fall of the Bastille. Paris: Gallimard, 1989.
LOWERY, Harold. The Fall of the Bastille: The Voice and Power of Paris. Parkland College, 2005. Disponível em: https://spark.parkland.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1107&context=ah. Acesso em: 22 mar. 2025.
THE Bastille: A History of a Symbol of Despotism and Freedom. Journal of French Historical Studies, v. 23, n. 2, p. 145-167, 2002.

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A Revolução Francesa
Michel Vovelle – Editora Unesp (2019)
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